quarta-feira, 27 de maio de 2009

Bactéria é despertada para a morte

Nova estratégia para eliminar infecções latentes pode ajudar no combate à tuberculose e outras doenças infecciosas.
por Nikhil Swaminathan
Pesquisadores israelenses anunciaram no mês passado o desenvolvimento de uma nova técnica que pode eliminar bactérias obstinadas que escapam dos antibióticos. Algumas infecções como a tuberculose (TB) podem permanecer latentes nos pulmões por décadas, antes de se tornarem ativas e provocarem os sintomas — mesmo depois de a maioria das bactérias ter sido debelada por antibióticos.

Cientistas da Universidade Hebraica de Jerusalém relataram no Proceedings of the National Academy of Sciences USA, a descoberta de uma forma de erradicar esses microrganismos e evitar que, votem a atacar, quando o sistema imunológico do portador estiver fragilizado. O novo método tira partido da necessidade que as bactérias adormecidas têm de absorver nutrientes como ferro e magnésio. Esses microrganismos podem evitar os antibióticos quando estão com “fome” e se tornam inativas. Os pesquisadores conseguiram reduzir populações de bactérias persistentes em até 99% inicialmente revigorando-as com nutrientes e depois destruindo-as com antibiótico.

No estudo, o grupo saturou uma linha de Escherichia coli - bactéria comum, inofensiva, que vive no trato intestinal humano e de muitos animais, embora algumas cepas possam provocar envenenamento alimentar - com antibióticos. Parte dela morreu, mas muitas obstinadas permaneceram ativas. Quando os pesquisadores mergulharam as sobreviventes em uma infusão de nutrientes (incluindo uma fonte de carbono, ferro e magnésio), elas parecem ter despertado do estado de latência por cerca de uma hora, mas não se replicaram como as bactérias normais. Posteriormente, os pesquisadores ofereceram nutrientes, acompanhados de uma boa dose de antibióticos; elas se reanimaram, mas morreram em seguida.

“Normalmente, quando se suspende o fornecimento de nutrientes para bactérias em laboratório, é preciso esperar algumas horas até elas se adaptarem, e isso acontece quando se começa a introduzir os antibióticos”, observa a co-autora do estudo, Nathalie Balaban, física e bióloga. “Quando as bactérias foram expostas a novos nutrientes e antibióticos simultaneamente, conseguimos reduzir o número delas significativamente.” Ela estima que seu grupo eliminou 99% da população bacteriana.

Kim Lewis, diretor do Centro Antimicrobiano da Northeastern University, avalia que o novo trabalho é interessante, mas que pesquisas adicionais são necessárias. Ele observa que a E. coli que o grupo utilizou nos experimentos é uma cepa mutante, que costuma deixar um número mais alto de indivíduos resistentes que os tipos normais. E argumenta que essa variação pode provocar alterações nos resultados se aplicada a outros tipos de bactérias.

Balaban concorda que a técnica precisa ser testada em animais para se avaliar sua eficiência em organismos complexos e não apenas em culturas celulares simples. Antecipa alguns desafios que serão constatados, incluindo a acessibilidade aos locais da infecção. No caso de uma infecção urinária, seria relativamente fácil descarregar a bexiga e o resto do trato urinário. Mas seria mais difícil atingir a bactéria em infecções respiratórias como a TB - e descobrir seus nutrientes preferidos para despertá-las e fazê-las ingerir o antibiótico.


http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/bacteria_e_despertada_para_a_morte.html

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